FAMÍLIA, ESCOLA E SOCIEDADE

  • Formação Continuada dos Professores de Nova Candelária tratou sobre família, educação e a mudança do contexto social na vida das pessoas

    Assunto: Educação  |   Publicado em: 09/08/2017 às 09:06   |   Imprimir

No mês de julho, os professores da rede municipal de ensino participaram durante dois dias da formação continuada, que visa aperfeiçoar os trabalhos educacionais, para que possam aprimorar seus conhecimentos com base nas mudanças do contexto social atual, principalmente da realidade em que as comunidades vivem atualmente e que as crianças e adolescentes são submetidas ao seu crescimento.

Desta forma, no primeiro dia, palestrou no Centro Multiuso de Nova Candelária a Pedagoga Elisângela Pires, que abordou diversos eixos sobre a vida, o crescimento e a educação de uma criança e adolescente. Confira:

 

FAMÍLIA

Inicialmente, Elisângela trouxe aos professores participantes, comparativos sobre situações corriqueiras do dia-a-dia e seus tratamentos antigamente, com a atual época. A família é a base de todo processo de criação, onde a criança é gestada e recebe os primeiros ensinamentos sobre o mundo, mas de forma resumida, ou seja, aquilo que cabe em sua consciência, naquele momento.

A criança aos 10 meses de idade, começa a se mexer mais rápido, alguns engatinham e passam a buscar novas experiências e é nesse momento, que a palestrante faz seu comparativo: “Há 30 ou 40 anos atrás, era nessa época em que as crianças aprendiam o significado da palavra NÃO, sendo ela, o que colocava limites entre o que podia e o que não podia ser feito. O estudo e o trabalho eram valores fundamentais, portanto, respeito aos professores era mais que regra, diferentemente de hoje”, disse Elisângela.

Outro aspecto abordado, foi que as crianças e adolescentes aprendiam desde cedo o valor da “lida de casa”, pois ajudar nas tarefas, seja na louça ou na roça, era obrigatoriedade. De acordo a palestrante, os pais curavam seus filhos com chás, benzeduras, banha, açúcar e a frase “quando casar, sara! ”, sem muito escândalo, os problemas eram minimizados e resolvidos em família. “Era na família que aprendíamos a ouvir ao lado do fogão a lenha os conselhos de nossos pais, olhando nos seus olhos. Hoje, isso raramente acontece”, disse.

 

 

AS MUDANÇAS

Com base em sua palestra, muitas mudanças podem ser citadas, a começar pelas refeições que eram a mesa, onde a família conversava, faziam planos objetivos, sonhos, etc. As crianças subiam em árvores sem ouvir seus pais dizerem que elas cairiam e se machucariam. Se sujavam sem medo de ouvir suas mães reclamarem da roupa encardida. Corriam pés descalços sem serem censurados por seus pais, com medo de um pequeno espinho. Estas, foram apenas algumas das diversas mudanças citadas pela pedagoga. “Hoje, pais almoçam olhando para seus celulares, pois o WhatsApp, Facebook e Instagram não podem esperar. Crianças fazem suas refeições assistindo desenho animado e o contato com a família fica apenas para quando há uma sobra de tempo”, afirmou Elisângela.

 

FAMÍLIA E ESCOLA – É PRECISO REINVENTAR

Não há como não levar em consideração o avanço tecnológico, as diferentes formas de pensar, as mudanças nos valores e na maneira de se encarar a vida. Não considerar as mudanças contemporâneas que o mundo passou e passa diariamente, seria ignorância pura. Portanto, a palestrante Elisângela Pires afirma que professores, pais, mães, avos e toda sociedade, precisam entender todas as modificações na educação das crianças. “É necessário compreender e identificar suas possibilidades, desenvolver suas habilidades e competências e para isso, precisamos contar com o apoio das famílias, pois não podemos ser conhecedores totais da relação entre os educandos e suas famílias”, destaca.

Ela enfatiza que as escolas precisam se reinventar, acompanhando a evolução da espécie humana, que é natural. Pais, precisam compreender que todo processo educacional possui em sua construção, a participação da família, portanto, é indispensável a participação. “Família e escola não são dois eixos separados. Elas se completam”, comentou Elisângela.

 

 

O QUE É INDISCIPLINA?

Não existe convívio sem disciplina. Regras, normas, leis e regulamentos existem em todos os locais, afinal, eles são necessários. De acordo a palestrante Elisângela Pires, disciplina e afeto formam a base da educação, portanto, é necessário ensinar desde cedo, que os mais velhos merecem respeito, que palavras como obrigado, com licença e por favor, fazem parte dos valores humanos, e que gentileza é como uma colher de açúcar no amargo da vida.

Todos sabem que a disciplina é fundamental, mas será que indisciplina faz parte das conversas entre pais e filhos, professores e alunos? Questionada sobre isso, a palestrante afirma: “Não! Filhos e alunos precisam compreender as consequências da indisciplina. Filhos aprendem as consequências na família, alunos na escola. Os professores que dizem que irão cobrar a lição de casa e no outro dia ignorem suas próprias palavras, estão negligenciando um futuro de alguém que percebeu, com certeza, que o professor não cumpriu com sua promessa e que a indisciplina por não ter feito a lição, não tem consequência nenhuma”, destacou.

Assim, quebrar regras, sem conversar ou argumentar inteligentemente, agredir física ou verbalmente colegas, não realizar tarefas ou ações previamente combinadas são formas de indisciplina, tanto dos educandos quanto dos educadores se assim agirem, e elas precisam ser compreendidas e cobradas, impreterivelmente.

“Toda ação gera uma reação, todo ato tem consequências então é natural que todo ato de indisciplina tenha uma ação disciplinar para cumprir. Isto precisa ser claro, estar regimentado e ser de conhecimento dos pais. Os pais precisam saber que se seus filhos tiverem que cumprir alguma ação disciplinar é porque estão sendo cuidados, que os professores estão atentos para que eles não sigam errando ou se enganando.  Que é difícil, mas verdadeiramente necessário”, ressaltou Elisângela Pires.

 

 

INOVAÇÃO – O ENSINO E A TECNOLOGIA

 

Questionada sobre como os professores podem aumentar o nível de aproximação com os alunos do século XXI, Elisângela afirma que não se pode imaginar um mundo sem tecnologia. “Todo ser humano é lúdico, e nenhum celular substitui o olhar, então precisamos ensinar a ver desde pequenos.  Precisamos narrar histórias modulando a voz criando o vínculo do olhar, cantar e conhecer os estilos musicais mostrando o enredo cultural que existe em cada estilo e época e isso não pode se perder no segundo, terceiro ou quarto ano das séries iniciais, para que permaneça nos anos finais. Precisamos aprender a utilizar estas ferramentas a nosso favor, quando e como inseri-las e quando não permitir que atrapalhem as ações. Lembrem: Tudo tem um tempo, e o tempo não volta. Criança precisa aprender a subir em árvore, brincar com paus e pedras, correr pelo jardim ao invés de ficar trancado em casa com celular”, respondeu o questionamento.

Nenhuma criança deveria ter celular liberado (sem controle, antes dos 12 anos). Todas as famílias deveriam ter um tempo (pelo menos 20 mim) para brincar, jogar bola, costurar roupas para uma boneca, jogar jogo da velha ou roba monte com baralho. “Porque permitimos que o celular e o tablet tome um tempo que é nosso, da família?  Porque abrimos mão da convivência? Cada ação nossa, reflete no adulto que serão e somos nós quem temos que ensinar que ferramentas não substituem pessoas. Afinal...quem compra estes equipamentos e coloca nas mãos das crianças? ”, questionou.

Respondendo ao questionamento sobre a escola, ela destaca: “A escola, cabe conversar com as famílias de uma forma criativa, gostosa e envolvente para resgatar o vínculo e estabelecer o elo entre o educando e o professor.  Por isso o professor precisa manusear estes equipamentos, conhecer programas que possam auxiliar e ser usado, sem cair na rotina de usar só isto ou só aquilo. É preciso equilibrar. Ler, pesquisar sobre tudo, pois não se pode argumentar sem conhecer”.

 

 

CONHECER OS ALUNOS É FUNDAMENTAL

 

Quando os professores conhecem bem as fases do desenvolvimento e identificam elas em seus alunos, isto facilita selecionar e oportunizar interações que trabalhem com a concentração, embora todo jovem ou criança se concentra por muito tempo em um celular, a pergunta é porque não se concentram em determinadas situações ou se não se concentram nem com o celular?  O que está sendo proposto é atrativo para os alunos?  Deque forma eles estão envolvidos? Que tipo de pensamentos a atividade proposta motiva?  Como os desafios estão sendo apresentados?  Isto é tudo que posso apresentar? 

Em resposta, ela afirma: “É preciso conhecer o aluno para entender suas necessidade e limitações para então propor este caminho, que perpassa uma observação cuidadosa e respeitosa, sem rotulações, mas com investigação. Existe uma série de ações específicas para serem usadas, mas não há como descrever sem conhecer as especificidades, sobre o que o psicólogo, ou fonoaudiólogo, ou neurologista investiga a cerca de cada paciente. Uma coisa é alguém ser lento, ter preguiça, outra coisa é ter dificuldade, é representado por alguns comportamentos gerais e outros específicos. O que é certo é que em uma turma, nunca todos terão os mesmos ritmos, cada um pode ser bom em coisas diferentes. O desafio é identificar a linha tênue entre uma coisa e outra”.

Ao final, Elisângela Pires foi questionada sobre qual seria a solução para reestabelecer o convívio e respeito entre professor e aluno. Ela responde: Acredito que ao pensarmos em tratar nossos alunos, da mesma forma que gostaríamos que tratassem nossos filhos, já teríamos um bom percurso. Estudar e entender de que dificuldades estamos falando, de qual limitação estamos nos referindo já teríamos motivação suficiente para pensar ações integradoras, para puxar a turma em torno de um projeto, de uma aprendizagem conjunta.  E quem traz este desejo para dentro da turma é o professor, há um poder nele de juntar o grupo, de encantar, de amar e ser amado que é impossível mensurar. E não importa a idade, importa o desejo, a doação, a pesquisa para encontrar meios e formas. A disponibilidade para pensar e acolher. A internet é um mundo vasto de pesquisa, de informação e de possibilidades, podemos aprender sobre tudo se soubermos pesquisar”, encerrou a palestrante.

 

Por: Dalvane Rafael – Jornalista e Assessor de Comunicação da Prefeitura de Nova Candelária.